quarta-feira, 20 de outubro de 2010

14º Capítulo


A sua mão deslizou juntamente com o resto do seu corpo, discretamente olhou os posters que serviam para aprimorar um pouco aquela sala branca, apenas para ter direito a mais uns segundos sem que o seu coração quase lhe saltasse pela boca. Olhou na direcção de David, encontrava-se sentado no sofá, com uma mão apoiada na traseira do mesmo. Olhava-a intensamente, directamente, indiscretamente. A sua mão encontrava-se ainda na parede, apertou-a discretamente para as suas pernas não deixarem de lhe obedecer. Aquela troca de olhares estava definitivamente a consumi-la por dentro, sem prévio aviso.

David desviou o olhar, largou o comando e ergueu-se. Ela contraiu-se reavivando a sua memória .

Flashback

Sofia voltou a olhar para a mesa, viu David a meter uma bebida à boca, não podia dizer qual já que estava a uma distância considerável. Olhou para ela, baixou a cabeça . As suas mãos sairam de cima da mesa e pararam na cadeira. Desviou-a, voltou a olhar para ela e ergueu-se. Esta reacção por parte de David levou o grupo a entreolhar-se e Rubem puxou-lhe a mão o que desviou a sua atenção por segundos.

‘Vou lá cara’- e com isto encaminhou-se na sua direcção. Sofia começou a tremer. Ao ver aquela figura deslumbrante caminhar até si pode reparar como era simplesmente perfeito. O seu cabelo levantava suavemente a cada passo dado, a forma como o seu corpo respondia a cada movimento feito por sua causa, sim por sua causa.

Flashback off

Ela focou-o com o olhar, continuava a ser por sua causa. David dirigiu-se lentamente a ela, pode reparar que Sofia recuou até as suas costas embaterem delicadamente na parede, apoiando-se no joelho que o permitia.

Ele tinha uma vontade louca de se perder nela. Sofia iluminava uma sala e aquela estava a revelar-se pequena demais para ela fugir. A estrela era ele mas o brilho provinha dela.

- Vai precisar de gelo, vou buscar. Senta aí.

Passou a ombreira da divisão e permitiu a Sofia fraquejar, já precisa de um momento apenas para si, tentar recompor-se. A sua mão encontrou o peito, dificilmente deixou a parede e encaminhou-se para o sofá, passando os seus olhos pelos posters que serviam como arremeço de decoração. Ela estava presente no jogo em que lhe tinham tirado a foto que mais se destacava, lembrava-se perfeitamente de quantas vezes se esqueceu de respirar durante o encontro. Uma janela ocupava grande parte de uma parede na direcção oposta, a sua mão desviou o enorme cortinado que tentava manter toda a sua vida discreta o quanto possível. Ela sempre tinha adorado vistas, estava a anoitecer e o crepúsculo sobre a capital era magnífico. As luzes que emanavam dos carros passavam na sua cabeça em câmara lenta, como se de um filme se tratasse. Ainda se perguntou se naquele momento, ela fazia parte de um. Um leve sorriso apoderou-se da sua cara, virou-se com a cabeça baixa e logo embateu contra uma figura que ali se encontrava. Ela assustou-se. David estava completamente colado a si e aquele movimento tinha levado o seu braço à cintura de Sofia novamente.

-Tava sorrindo.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

13º Capítulo




Sofia voltou a parar, abriu a boca levemente e inspirou fundo. Que poderia ela responder a isto? Ela tinha medo sim desde que os seus olhares se tinham cruzado no restaurante, tinha medo desde o jogo, tinha medo do que ele a fazia sentir, de como a fazia sentir. O silêncio era o seu refúgio, se ela dissesse tudo o que pensava o mais certo era assustá-lo ao ponto de ele pedir uma providência cautelar para se manter longe de si. Ela abanou a cabeça, que filmes lhe vinham à mente naquela altura.

- isso é um ‘não’?

Ficou tão absorvida nos seus pensamentos que se esqueceu de responder a David. Mas que poderia ela responder?

- Um ‘não’? Ah sim, é um ‘não’. Definitivamente um ‘não’..

- O que disse?

- O meu joelho, dói-me um pouco.

David fechou a porta e avançou um pouco, deixou o seu sorriso apareçer e levou a sua mão à cabeça, mexeu levemente nos caracóis ajeitando-os.

- ‘Definitivamente não..’, eu percebi – sussurou-lhe ao ouvido, num tom meigo e provocador. Avançou e passou por ela que continuava apoiada à parede.

-Fica à vontade.

Desapareceu em seguida para sala. Nunca tinha sido boa em mentiras, mas esta tinha corrido tão mal que lhe lançou um enorme sorriso na cara. A mentira e o David, muito mais o David. Aquele homem era um sonho tornado realidade, assim esperava ela. Olhou em redor e reconheceu de imediato aquele apartamento, pequeno e simples. A decoração não era muito evidente mas não podia pedir muito, afinal de contas ele era homem. Design não era um domínio masculino. Sorriu sem saber bem porquê, aquela casa transbordava ‘DAVID LUIS’ por todos os cantos, cheirava a David Luis.

-Vai ficar aí a tarde toda? Tem sofás na sala viu?

Ela revirou os olhos, David estava a entrar com ela a pouco e pouco. Esperou mais uns 10 segundos e avançou calmamente, tentou caminhar em bicos dos pés para ele não a ouvir chegar, para não se preparar. Voltou a parar, ia jurar que estava num sonho, num meio de um conto de fadas que tanto ansiava, tanto desejava. Os seus dedos encontraram o fim da parede, ela tentou preparar-se mentalmente para o enfrentar mais uma vez, gostava de saber onde estava a Sofia que sempre tinha conheçido, a Sofia que nunca caíra tão fortemente nos encantos de alguém.