terça-feira, 23 de novembro de 2010

17º Capítulo




David apoiou-se na sua perna e apertou-a com força, o que a fez suster a respiração e congelar enquanto ondas de calor invandiam o seu corpo. Levantou-se lentamente e aproximou um pouco mais as suas faces, ele estava completamente arrebatado e o impulso que sentia era mais forte que tudo. Parou naquela posição durante longos minutos, encarando-a, aproximando cada vez mais a sua cara até ao ponto de ambos sentirem as suas respirações. Ela descongelou e deixou que o pensamento fosse invadido pela realidade afastando-se um pouco com o seu olhar enterrado no chão. David finalmente levantou-se por completo sem lhe dizer nada, acendeu a luz e deixou um leve sorriso apoderar-se da sua boca. Olhou-a e pode verificar que continuava na mesma posição, ele sabia que a afectava. Bastava querer.

O seu telémovel tocou, demorou longos segundos com o olhar fixado no ecrã e resolveu atender. Ela pôde ouvi-lo a afastar-se lentamente e ia jurar que tinha ouvido a sua boca a pronunciar a palavra ‘manz’. Tentava descongelar, voltar à realidade da qual se tinha desligado forcadamente ao longo da passagem do único homem que a tinha feito sonhar pela sua vida. Expirou ruidosamente sem se preocupar com o facto de ele a poder ouvir, precisava de se libertar de todas as emoções que o seu corpo retinha com dificuldade e vamos ser sinceros. Ela já tinha tido tudo o que podia pedir e não pedir, já tinha perdido o seu coração vezes de mais durante a presença dele perto de si. Levou a mão à boca e mordeu o dedo com toda a força possível. Tentava arranjar coragem para sair dali sem dúvidas e mais importante de tudo, sem arrependimento.

Levantou-se e quase que implorou às suas pernas para lhe obedecerem, tornarem tudo mais fácil sem que as típicas perguntas surgissem à sua frente, a partir da boca de David. Caminhou a passos largos enquanto o seu joelho permitia e deparou-se com a divisória que separava a entrada do quarto e a porta de saída. A sua decisão ia influenciá-la de uma maneira estrondosa, aquilo que se passara dentro de quatro paredes tinha sido um momento vivido apenas por eles e mais importante de tudo, genuinamente verdadeiro. Ele não tinha obrigação de sequer a ter ajudado naquele momento, de a ter olhado de um jeito profundo como fazia. Fechou os olhos e deixou a sua cabeça chamá-la à razão, o mundo dele era demasiado inalcansável para ela.

‘Awww fodasse, como é que eu faço isto?’

Era o momento perfeito para sair dali sem justificações, não estava preparada para lhe dizer ‘adeus’, não a ele. Essa palavra era definitiva demais para ela, no entanto era a única hipótese real. Apenas precisava desesperadamente de reter outra imagem sua. Levemente deixou que as suas pernas a guiassem de acordo com o que o seu coração queria. A sua mão explorou a parede permitindo-a apoiar-se. Não fez barulho, tentou manter-se discreta e invisível. Os seus olhos depararam-se com o corpo perfeito de David. Encontrava-se apoiado na parede ao lado da janela e a sua mão livre agarrava o cortinado de modo a que pudesse ver a ‘zona inimiga’. Virou-se um pouco e deixou-a vislumbrar o seu sorriso, sorriso como aquele não existia. Sentiu o seu corpo contrair-se com a ideia de que seria a última vez a vê-lo daquela maneira, a última vez que alguém a deixaria assim. Ficou apenas a observá-lo conversar alegremente ao telemóvel sem sequer prestar atenção ao que dizia, quanto mais tempo permanecia ali, mais um pouco de si era deixado naquela divisão. Estava a matá-la o facto de nunca lhe puder tocar do jeito que queria, perder-se e entregar-se a ele de uma forma única, dar-lhe tudo num pedaço de si.´


16º Capítulo



Devia de ter guardado aquelas palavras para si, David virou-se num ápice e ela sabia o que tinha provocado nele. Uma chamada de atenção, ele parecia tão perdido nos seus pensamentos como ela. Rapidamente se tentou concentrar no seu joelho, disfarçava algo que comecava a tomar conta dela.

Sabia que Luiz continuava focado em si e lutava com todas as forças para não sucumbir à mistura de emoções que turbilhavam dentro do seu corpo.

David reparou como aquela bela mulher se mantinha aparentemente calma perto de si, como deixava transparecer uma ligeira atitude desprezante para consigo e tinha de lhe dar mérito por isso. Era raro hoje em dia separar o David, do David Luiz o guerreiro do Glorioso. Ficou intrigado quando se focou definitivamente na sua cara, aquela expressão deixava passar medo. A luz que entrava por ali e acariciava levemente a sua pele deixava-a com um tom divinal. Em todo o tempo que a olhou, pedia respostas através da sua Fé inabalável. Meteu uma completa estranha dentro da sua casa e no entanto sentia-se completamente confiante quanto ao seu instinto, algo lhe dizia que era assim que devia acontecer.

Dirigiu-se a ela e baixou-se perto do seu joelho. Pode reparar que o inchaço tinha diminuído, levemente tirou-lhe o gelo da mão e agarrou na sua perna.

-Deixa eu te ajudar.

Sofia estremeceu completamente quando sentiu a mão de Luiz na sua perna, o contacto entre os dois provocava nela uma reacção instintiva de contracção. Naquele momento era tudo o que podia fazer, sem permitir mais aproximações. Pode sentir a mão dele viajar um pouco pela barriga da sua perna, arrepiando-a completamente. Não podia dizer se estava a fazer aquilo propositadamente ou apenas porque estava preocupado com ela, mas não se atreveu a olhar para baixo e talvez fosse melhor assim.

-Ainda está doendo?

-Um pouco, mas está melhor.

Era melhor começar a interiorizar que fantasias e contos de fadas não existiam num mundo de loucos como este, mentiu-lhe descaradamente sem coragem de o encarar. Procurava uma saída fácil para os dois, onde não houvesse despedidas nem remorsos. Sempre tinha odiado despedidas.

-Eu acho que ainda está um pouco inch..

-Está melhor, acredita.

Desta vez David olhou-a e retirou o gelo de cima do joelho. Durante 10 segundos olharam-se, ela contou-os pesadamente. Sabia que David não acreditava nela, afinal nunca tinha sido boa em mentiras e ele começava a perceber isso.

Não reagiu à sua afirmação, não queria duvidar dela e tentou acreditar. Mas ele sabia lidar com lesões, sabia reconhecer a gravidade ou não de uma e recuperações repentinas não existiam aprendeu ele a custo próprio. Mal sonhava que Sofia também o sabia.. David devolveu-lhe o gelo e a sua mão deslizou suavemente até ao fim da sua perna. Pele macia, tentadora de mais para ele, insuportável de mais para ela. O seu coração contorcia-se inexplicavelmente sem que pudesse fazer nada, a sua preocupação para com ela era genuinamente sincera.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

15º Capítulo


E o sorriso de David abriu-se completamente, para além da ternura demonstrada na sua voz. Ela sentia-se tão descontrolada que comecava a ter medo das suas reacções. Aquele homem estava a torturá-la involutariamente.

Sem saber o que dizer e tentando escapar, Sofia voltou a sorrir e apressou-se a sair daquela posição mas foi impedida.Voltou a engolir a seco e olhou-o novamente. Num movimento rápido, a mão de David apareceu com um saco de gelo à sua frente, levando-a a recuar discretamente.

- O seu gelo.

-Obrigada.

Ao pegar no saco a sua mão tocou involutariamente na de David, o que a levou a arrepiar-se e rezar para que ele não tivesse reparado. Mas David não largou o gelo, apenas baixou a mão até à altura do seu peito, tirando-a da frente. Avançou uns centímentros permitindo uma aproximação tão nitida que a levava a sentir o calor que o corpo de David transmitia para o seu. Ao subir o olhar pode reparar que a cara dele se encontrava a não mais de 15 cm da sua, olhava-a intensamente tentando entrar na sua mente e estava a consegui-lo. Mais do que ela pretendia. Sofia respirava já quase descontroladamente, e de um só impulso retirou o saco da mão de David e dirigiu-se para o sofá.

‘Caraca, ela tem qualquer coisa Meu Deus’

Ela deixou o seu corpo cair sobre o sofá, a sua mão voltou a encontrar o peito. A partir daquele momento o seu coração tinha deixado de lhe obedecer. Não era que ela não quizesse, desejava aquilo acima de tudo. Mas as diferenças gritavam mais alto na sua cabeça. E era a realidade pura e crua, eles pertenciam a mundos diferentes, diferentes de mais para encontrarem um ponto de equilíbrio entre os dois.

Olhou para ele, apesar do anoitecer David ainda não tinha ligado as luzes. Os clarões que se vislumbravam provinham da enorme janela á sua frente. A sua silhueta estava perfeitamente definida pela luz natural que entrava naquela divisão, ela olhou-o calmamente de cima a baixo. Expectante com o seu próximo movimento, imagens corriam na sua cabeça, imagens surreais nas quais o olhar de David era dirigido a si na primeira vez que sabia da sua existência, onde recordava o bater da sua mão no peito após ter marcado no derradeiro minuto, a sua dedicatória. Fechou os olhos e respirou fundo, tentando conter as lágrimas que começam agora a nascer, era algo impossível e tinha de encarar isso. Nem o gelo que tinha na mão conseguia congelá-la e permitir-lhe que ela deixa-se de sentir o que quer que fosse naquele momento.

-Maldito joelho!