segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

22º Capítulo


- O seu joelho parece melhor, o inchaço diminuiu. Mas não vai poder esforçar muit..

- Eu sei disso.

-Como sabe se nem me deixou terminar a frase?

Sofia encolheu-se, sentiu que tinha falado de mais. Rapidamente arranjou uma desculpa racional o quanto possível.

- O médico referiu isso no centro.

- Ah sim, o médico.

Instalou-se um silêncio enorme naquela divisão, sentiu David recostar-se completamente no sofá. Preferiu não o encarar, apenas conseguia fazer um zapping interminável com o comando. Ouviu a sua respiração demasiado pesada, e talvez nem quizesse olhar mas teve de o fazer. Tinha adormecido: eis o erro que David nunca poderia ter cometido.

Sofia ficou longos minutos a olhá-lo, por um lado desejava que não tivesse adormecido, não lhe desse uma escapatória possível. A aparência angelical que deixava transparecer enquanto mantinha os olhos fechados apenas lhe dava vontade de ficar assim, encará-lo e receber a tranquilidade que ele lhe transmitia. Olhou para a porta e voltou a olhar para David. Apertou com força o sofá e deixou cair a cabeça, os seus olhos começavam a ficar turvos sem que pudesse fazer nada para o impedir. E ela não queria, não queria chorar por alguém que a tratou da melhor maneira possível sem pedir nada em troca. Sabia perfeitamente que iria fechar uma porta para sempre. Para sempre. Ela nunca tinha sido de dramatismos, nem se preocupava demasiadamente com o futuro. Sabia que o seu destino já estava escrito mas existiam expressões que evitava a todo o custo. Expressões como ‘para sempre’ e ‘adeus’. No entanto via-se forçada a usá-las com a única pessoa da qual nunca pensou despedir-se. Não pelo menos desta maneira.

Olhou-o mais uma vez, continuava angelicalmente imóvel. Discretamente elevou uma das suas mãos, pegou num cacho que lhe tapava um pouco da cara e desviou-o. David mexeu-se levemente e um sorriso formou-se na sua boca. Sofia deixou a sua cabeça descair um pouco para a direita, completamente arrebatada com aquela imagem. O seu polegar elevou-se, com a maior das calmas desenhou a boca de David sem lhe tocar. Aproximou o dedo apenas o suficiente para sentir o calor que emanava dos lábios. Esta seria a sua despedida.

Levantou-se do sofá e prendeu o seu olhar no vazio. Estas horas fariam parte da sua vida até morrer. Acreditou vivamente que ia revê-las nos seus sonhos todas as noites. Encaminhou-se para o hall de entrada e voltou a olhar para o sofá. Ali continuava ele, sem que aquela situação o perturba-se. Sofia viu o que parecia ser um bloco de notas em cima da mesa e dirigiu-se a ele. Escreveu 1, 2 ,3 bilhetes até lhe sair algo muito superficial, mas sentido.

‘Ele vai entender. Tem de entender ..’

O seu olhar voltou a cair sobre David, aquilo estava a matá-la. Levou uma mão à boca na tentativa de abafar o choro e encaminhou-se para a porta. Os seus dedos detiveram-se na fechadura durante logos minutos. Deitou a cabeça para trás e sem pensar duas vezes, abriu a porta e saiu. Tinha sido o final da história com o seu menino de ouro, assim pensou ela.

David acordou com a luz da televisão, não sabia quanto tempo tinha passado mas já precisava de um merecido descanso. Levemente os seus pensamentos depositaram-se sobre Sofia. Um sorriso formou-se até encontrar um pedaço de papel no braço do sofá.

‘Obrigado por tudo e por favor, promete-me que vais tentar perceber.

Até um dia.

Sofia’

David largou o papel e rapidamente pegou nas chaves e saiu de casa. Desceu as escadas o mais depressa possívél e abriu a porta do prédio sem se aperceber a quantidade de força que tinha aplicado na fechadura. Parou no meio da rua, olhou para ambos os lados mas não encontrou silhueta que queria. Baixou-se sobre os joelhos e meteu uma mão no chão. Ele não tinha feito nada de errado. Ou será que tinha? É certo que não a conhecia mas partir assim sem lhe dar um explicação ou sem se despedir? Não se conformava. Abanou a cabeça e resolveu voltar para dentro, não valia de nada procurar sem saber onde.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

21º Capítulo


-Acredita no Destino?

Sofia revirou os olhos e deixou o sorriso aparecer novamente.

-Não ouviste nada do que disse pois não?

-Segui cada palavra sua com a maior atenção, mas me diz uma coisa. Porquê entrou no restaurante naquele preciso dia e não noutro qualquer? Ou mais importante, porquê está aqui, neste preciso momento?

-Eu acredito no Destino sim, não há coincidências.

-Há coincidência sim, apenas tanta coincidência junta é impossível.

Sofia voltou a encará-lo, sabia que ele tinha razão. Aliás, sabia que ele tinha toda a razão. Ainda não tinha tido uma falha desde que ela chegára à sua casa e começava a questionar-se quando seria a 1ª. Ela precisava desesperadamente dessa falha como pretexto para sair porta fora. Se a coragem lhe faltava, um erro por parte de David era o tudo o que pedia. Mas o modo como ele fazia as coisas não deixava margem para falhas, cada gesto ou palavra vindo de si apenas o tornavam cada vez mais …

.. Apetitoso.

Sofia sorriu com este pensamento, a palavra ‘apetitoso’ era um adjectivo demasiado pobre para o descrever. Essa palavra ainda estava para ser inventada.

-Mudei de ideia, esse seu sorriso não vale ouro não. Não pode haver ouro que o consiga comprar.

Sofia baixou lentamente a cabeça em sinal de embaraço, não sabia o que fazer e muito menos o que dizer. Tinha com todas as forças que sair dali. Tinha digamos, não queria. O seu cabelo tapou-lhe a cara e o sorriso depressa se esmoreceu como uma leve brisa de vento passageira. Ficou assim, e tão rapidamente como o seu sorriso surgiu e se foi, também os seus olhos ficaram demasiado cristalinos, demasiado emocionais. Apetecia-lhe correr na direcção de David, abraçá-lo e sentir o calor que o seu corpo podia emanar. Mas não, manteve-se imóvel. Algo a impedia de se tornar impulsiva e definitivamente não era David. Esse quase que podia apostar estar disposto a um abraço, a apertá-la contra o peito de uma forma única e ficar assim durante muito tempo.

Sentiu a cadeira onde David estava arrastar-se para o sítio onde pertencia. Cerrou os olhos e engoliu a seco, engoliu as palavras que nunca lhe poderia dizer. Por mais que lhe custasse a sua decisão estava tomada, apenas esperava o momento oportuno para conseguir, sim conseguir realizá-la. Luiz sentou-se ao seu lado e rapidamente Sofia tomou uma postura aparentemente normal. Se alguém conseguisse ler o que lhe ia na alma naquele preciso momento ela tornar-se-ia a mulher mais sub-entendida neste mundo. Quem nunca teve o homem da sua vida ao lado sem nunca existir permissão para lhe tocar? Muitas mulheres sentiram isso na pele.

Mas quem, alguma vez na vida se sentou ao lado do homem que amava sentindo que era admirada por ele, sentindo que nada mais existia por parte dele, além de uma verdadeira sinceridade no olhar, uma preocupação que tocava a todos? Sofia sentia. E talvez por isso se considera-se a mulher mais realizada do mundo, a par com uma grande tristeza que lhe percorria as veias ao mesmo tempo.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

20º Capítulo


- O sofá é enorme David. -Um certo orgulho apoderava-se dele cada vez que a ouvia pronunciar o seu nome, era angelical.

-Eu sei.

Sofia não aguentava sentir-se observada daquela maneira, não por ele. Acho que não suportava um olhar verdadeiramente verdadeiro. Tentou por tudo abstrair-se concentrando-se na televisão. Não o olhou.

-O que estás a fazer?

- Admirando seu perfil.

-Não precisas de estar aí simplesmente para me olhares.

-Eu não estou olhando para você, eu te estou admirando.

Sofia engoliu a seco, percebeu-o. Olhou para ele com o maior nó na garganta alguma vez experenciado, apenas lhe tinha dado a confirmação: o olhar de David não era apenas isso, um olhar. Era o espelho da sua alma.

-Não há assim tanto para adm..

-Você é linda, Sofia.

Sofia voltou a olhá-lo e pode reparar como a forma que apoiava o seu queixo lhe dava um ar angelical e ao mesmo tempo infantil. Não que isso fosse mau, pelo contrário. Deixava transparecer pureza, e isso destruía-a por dentro. Baixou a cabeça discretamente em sinal de embaraço e deixou aparecer um sorriso tão nítido que brilhava sem parar.

-Ué, esse sorriso vale ouro sabia?

- Que eu me lembre, ainda não recebi dinheiro por ele.

-Pois eu apostava a minha carreira nesse sorriso.

Congelou, pode reparar pelo canto do olho a postura mais direita que David adoptou. Esperava uma resposta da sua parte, mas aquilo tinha-lhe batido de tal forma que o seu cerébro como que desapareceu. Esqueceu-se de respirar e só notou quando um ligeiro peso no seu peito denunciou a falta de algo. Tranquilamente disse a 1ª coisa que lhe veio à cabeça:

-Sabes quantos milhares de raparigas morreriam pelo teu sorriso?

-Faço uma pequena ideia..

-E sabes quantos milhões de benfiquistas caíam em cima de mim se apostasses a tua carreira por algo inferior? 6 milhões.

-Algo inferior? Ah não diz isso não!

-Tu és adorado, idoletrado por milhões de pessoas à volta do mundo. Todos esperam o melhor de ti, porque nunca viram o teu pior e mesmo no teu pior consegues fazer levantar um estádio como a Catedral. És o Guerreiro da Luz e o menino de ouro do Jesus, e sabes bem que os Guerreiros nunca podem descansar. Viste o que conquistaste desde que estás no Benfica? Quase que alcançaste o céu David, tens o mundo a teus pés. Deus não dorme, estava destinado assim. Ainda queres mantêr a aposta?

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

19º Capítulo


Trancou a porta e deixou a torneira a correr, as suas mãos em forma de concha abraçaram levemente um pouco de água que levou à cara na tentativa de refrescar a sua mente, de a limpar tanto por fora como por dentro. Apoiou-se no lavatório, deixou que uma gota de água corresse para a ponta do nariz e cai-se de seguida evaporando-se no meio de tantas outras. Tentava encontrar a sua imagem no espelho, mas algo a tinha obsorvido de tal maneira que os seus sentidos encontravam-se completamente distorcidos. Limpou a cara e apertou o trinco da porta, pensou seriamente senão seria melhor mantêr-se fechada naquela divisão. Mas afinal de contas estava a ter aquilo que tanto desejava, e apesar de os seus maiores sonhos comandarem a vida, talvez a realização de alguns fosse algo que nem Deus conseguisse construir.

Encaminhou-se para a sala passando mais uma vez os seus olhos pela parede ao seu lado direito, Sofia sabia que ele a esperava.

- Como está o seu joelho?

Instintivamente deu um salto, e o seu coração acompanhou-a. Ele continuava preocupado, como seria possível? Encontrou-o ao lado da porta da toillete, olhando-a mais uma vez, da única maneira que o sabia fazer: da forma mais verdadeira possível.

- Assustaste-me.

-Me desculpa, não era essa a minha intenção.

-Eu sei.

Virou-se de novo, nunca na sua vida se tinha sentido tão observada. Não pelo menos daquele jeito, qualquer outro homem por esta altura já a tinha olhado de maneira errada e o melhor mesmo é nem referir o nível de preversidade retido nesses pensamentos. Mas com David era diferente, no seu olhar apenas encontrava carinho, preocupação e a mais genuína verdade. Homem assim não existia, não com o estatuto dele, não com a sinceridade que demonstrava, não com a forma como a acarinhava através de um simples olhar. E ela tinha de confessar que a sua timidez tomava conta de si quando David o fazia e pior de tudo: tinha medo que ele percebesse isso. Encaminhou-se para a sala deixando-o à espera de uma resposta.

Deixou cair a cabeça e esfregou freneticamente os seus caracóis. Sofia tinha um sorriso de ouro, valia a pena morrer por um sorriso assim. Mas Luiz começava a pensar desvendar os segredos por detrás daquele perfeito alinhamento, mal sabia ele que talvez tivesse a surpresa da sua vida ..

Dirigiu-se à sala, encontrou-a no sofá concentradissíma na televisão. Deixou novamente aparecer o sorriso torto quando recordou o que lhe tinha dito: “Fique à vontade”. Estava definitivamente a fazê-lo. Ponderou sentar-se ao seu lado mas não o fez. Apagou a luz e pegou numa cadeira arrojado-a com toda a força no chão. Ele queria que Sofia percebe-se a sua intenção. Rodou-a, meteu uma perna para cada lado e apoiou o queixo nos braços por cima da traseira da cadeira. E ficou apenas assim, a admirá-la sem nada mais dizer.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

18º Capítulo



Encostou a sua cabeça à parede em sinal de derrota. Ouviu-o dar uma gargalhada, viu-o levantar ligeiramente a cabeça o que fez os seus cachos balançarem levemente. O seu sorriso era perfeitamente alinhado, intocável e eterno. Podia sentir o seu perfume chegar a si, estava completamente hipnotizada pelo único homem ao qual não podia chegar. Tudo aquilo estava a consumi-la por dentro, um vazio enorme instalou-se dentro de si e instintivamente reagiu à dor preparando-se para sair dali. Desencostou-se da parede e olhou-o apenas mais uma vez, na mesma altura ele voltou a sorrir, ela fechou os olhos e virou-se, estava a tirar-lhe a pouca coragem que tinha para seguir em frente. Manteve-se assim durante mais 10 segundos e deixou a sua perna dar o 1º passo para se dirigir à porta.

- Onde vai?

Ela voltou a parar, aquela voz retirou-lhe completamente a coragem que lhe restava. Ele aguardava a resposta, aproveitou para a olhar de cima a baixo, percorrer todas as suas curvas com o olhar. Apenas reconfirmou o que há muito sabia: era definitivamente a mulher mais perfeita do mundo.

“Não estás sozinho Manz?! Não me digas que é a do restaurante! Oh que caralho, David?!”

Não respondeu a Rubem, dar-lhe-ia atenção quando obtivesse uma resposta por parte dela, que continuava imóvel sem pronunciar uma palavra. Continuava a sentir uma ligeira sensação de culpa porque afinal ele tinha sido a causa da sua queda.

‘Por minha causa? Aww que droga, será? Tanta coincidência não pode existir não..’

- A casa de banho, onde fica?

Sofia não se atreveu a olhar para trás, a muito custo se manteve calma. Se ele não tivesse aberto a boca, a esta hora ela teria desaparecido com toda a certeza. Ou talvez não.

- Primeira porta à direita. Precisa de aju..

-Não, eu vou sozinha. Obrigado.

Viu-a seguir caminho sem o encarar. Aquela atitude por parte dela mostrava medo, medo de quem talvez já tivesse sofrido muito ou simplestemente medo dele. Não no sentido literal claro, mas do mundo em que ele estava, pelo menos assim entendeu. Deixou o telemóvel cair e ficou preso nos seus pensamentos sentando-se na cama. Não sabia bem como chegar a ela e isso estava a deixá-lo um pouco impaciente. Não era habitual viver uma situação tão repentina como aquela, mas sabia que nada era por acaso.

Lembrou-se que Rubem ainda estava a falar sozinho e pegou no telemovél.

-Rubem?

“Mas que raio meu? Já viste o tempo que me deixaste a falar sozinho?!”

-Desculpa mas não vai dar para falar, depois eu ligo para você.

“Ouve lá nem penses que me vais deixar a falar sozinho outra vez, o que é que se passa?”

- Tá passando tudo neste momento.

“Ahm? Mas tu andas alucinado desde que viste aquela gaja meu, não te percebo!”

-Vai perceber.

“Oh fodasse, vais-me explicar a história ou n..”

Não deixou Rubem acabar, levantou-se e dirigiu-se à sala. Não ia preparar nada, o momento deixaria as coisas correr naturalmente.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

17º Capítulo




David apoiou-se na sua perna e apertou-a com força, o que a fez suster a respiração e congelar enquanto ondas de calor invandiam o seu corpo. Levantou-se lentamente e aproximou um pouco mais as suas faces, ele estava completamente arrebatado e o impulso que sentia era mais forte que tudo. Parou naquela posição durante longos minutos, encarando-a, aproximando cada vez mais a sua cara até ao ponto de ambos sentirem as suas respirações. Ela descongelou e deixou que o pensamento fosse invadido pela realidade afastando-se um pouco com o seu olhar enterrado no chão. David finalmente levantou-se por completo sem lhe dizer nada, acendeu a luz e deixou um leve sorriso apoderar-se da sua boca. Olhou-a e pode verificar que continuava na mesma posição, ele sabia que a afectava. Bastava querer.

O seu telémovel tocou, demorou longos segundos com o olhar fixado no ecrã e resolveu atender. Ela pôde ouvi-lo a afastar-se lentamente e ia jurar que tinha ouvido a sua boca a pronunciar a palavra ‘manz’. Tentava descongelar, voltar à realidade da qual se tinha desligado forcadamente ao longo da passagem do único homem que a tinha feito sonhar pela sua vida. Expirou ruidosamente sem se preocupar com o facto de ele a poder ouvir, precisava de se libertar de todas as emoções que o seu corpo retinha com dificuldade e vamos ser sinceros. Ela já tinha tido tudo o que podia pedir e não pedir, já tinha perdido o seu coração vezes de mais durante a presença dele perto de si. Levou a mão à boca e mordeu o dedo com toda a força possível. Tentava arranjar coragem para sair dali sem dúvidas e mais importante de tudo, sem arrependimento.

Levantou-se e quase que implorou às suas pernas para lhe obedecerem, tornarem tudo mais fácil sem que as típicas perguntas surgissem à sua frente, a partir da boca de David. Caminhou a passos largos enquanto o seu joelho permitia e deparou-se com a divisória que separava a entrada do quarto e a porta de saída. A sua decisão ia influenciá-la de uma maneira estrondosa, aquilo que se passara dentro de quatro paredes tinha sido um momento vivido apenas por eles e mais importante de tudo, genuinamente verdadeiro. Ele não tinha obrigação de sequer a ter ajudado naquele momento, de a ter olhado de um jeito profundo como fazia. Fechou os olhos e deixou a sua cabeça chamá-la à razão, o mundo dele era demasiado inalcansável para ela.

‘Awww fodasse, como é que eu faço isto?’

Era o momento perfeito para sair dali sem justificações, não estava preparada para lhe dizer ‘adeus’, não a ele. Essa palavra era definitiva demais para ela, no entanto era a única hipótese real. Apenas precisava desesperadamente de reter outra imagem sua. Levemente deixou que as suas pernas a guiassem de acordo com o que o seu coração queria. A sua mão explorou a parede permitindo-a apoiar-se. Não fez barulho, tentou manter-se discreta e invisível. Os seus olhos depararam-se com o corpo perfeito de David. Encontrava-se apoiado na parede ao lado da janela e a sua mão livre agarrava o cortinado de modo a que pudesse ver a ‘zona inimiga’. Virou-se um pouco e deixou-a vislumbrar o seu sorriso, sorriso como aquele não existia. Sentiu o seu corpo contrair-se com a ideia de que seria a última vez a vê-lo daquela maneira, a última vez que alguém a deixaria assim. Ficou apenas a observá-lo conversar alegremente ao telemóvel sem sequer prestar atenção ao que dizia, quanto mais tempo permanecia ali, mais um pouco de si era deixado naquela divisão. Estava a matá-la o facto de nunca lhe puder tocar do jeito que queria, perder-se e entregar-se a ele de uma forma única, dar-lhe tudo num pedaço de si.´


16º Capítulo



Devia de ter guardado aquelas palavras para si, David virou-se num ápice e ela sabia o que tinha provocado nele. Uma chamada de atenção, ele parecia tão perdido nos seus pensamentos como ela. Rapidamente se tentou concentrar no seu joelho, disfarçava algo que comecava a tomar conta dela.

Sabia que Luiz continuava focado em si e lutava com todas as forças para não sucumbir à mistura de emoções que turbilhavam dentro do seu corpo.

David reparou como aquela bela mulher se mantinha aparentemente calma perto de si, como deixava transparecer uma ligeira atitude desprezante para consigo e tinha de lhe dar mérito por isso. Era raro hoje em dia separar o David, do David Luiz o guerreiro do Glorioso. Ficou intrigado quando se focou definitivamente na sua cara, aquela expressão deixava passar medo. A luz que entrava por ali e acariciava levemente a sua pele deixava-a com um tom divinal. Em todo o tempo que a olhou, pedia respostas através da sua Fé inabalável. Meteu uma completa estranha dentro da sua casa e no entanto sentia-se completamente confiante quanto ao seu instinto, algo lhe dizia que era assim que devia acontecer.

Dirigiu-se a ela e baixou-se perto do seu joelho. Pode reparar que o inchaço tinha diminuído, levemente tirou-lhe o gelo da mão e agarrou na sua perna.

-Deixa eu te ajudar.

Sofia estremeceu completamente quando sentiu a mão de Luiz na sua perna, o contacto entre os dois provocava nela uma reacção instintiva de contracção. Naquele momento era tudo o que podia fazer, sem permitir mais aproximações. Pode sentir a mão dele viajar um pouco pela barriga da sua perna, arrepiando-a completamente. Não podia dizer se estava a fazer aquilo propositadamente ou apenas porque estava preocupado com ela, mas não se atreveu a olhar para baixo e talvez fosse melhor assim.

-Ainda está doendo?

-Um pouco, mas está melhor.

Era melhor começar a interiorizar que fantasias e contos de fadas não existiam num mundo de loucos como este, mentiu-lhe descaradamente sem coragem de o encarar. Procurava uma saída fácil para os dois, onde não houvesse despedidas nem remorsos. Sempre tinha odiado despedidas.

-Eu acho que ainda está um pouco inch..

-Está melhor, acredita.

Desta vez David olhou-a e retirou o gelo de cima do joelho. Durante 10 segundos olharam-se, ela contou-os pesadamente. Sabia que David não acreditava nela, afinal nunca tinha sido boa em mentiras e ele começava a perceber isso.

Não reagiu à sua afirmação, não queria duvidar dela e tentou acreditar. Mas ele sabia lidar com lesões, sabia reconhecer a gravidade ou não de uma e recuperações repentinas não existiam aprendeu ele a custo próprio. Mal sonhava que Sofia também o sabia.. David devolveu-lhe o gelo e a sua mão deslizou suavemente até ao fim da sua perna. Pele macia, tentadora de mais para ele, insuportável de mais para ela. O seu coração contorcia-se inexplicavelmente sem que pudesse fazer nada, a sua preocupação para com ela era genuinamente sincera.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

15º Capítulo


E o sorriso de David abriu-se completamente, para além da ternura demonstrada na sua voz. Ela sentia-se tão descontrolada que comecava a ter medo das suas reacções. Aquele homem estava a torturá-la involutariamente.

Sem saber o que dizer e tentando escapar, Sofia voltou a sorrir e apressou-se a sair daquela posição mas foi impedida.Voltou a engolir a seco e olhou-o novamente. Num movimento rápido, a mão de David apareceu com um saco de gelo à sua frente, levando-a a recuar discretamente.

- O seu gelo.

-Obrigada.

Ao pegar no saco a sua mão tocou involutariamente na de David, o que a levou a arrepiar-se e rezar para que ele não tivesse reparado. Mas David não largou o gelo, apenas baixou a mão até à altura do seu peito, tirando-a da frente. Avançou uns centímentros permitindo uma aproximação tão nitida que a levava a sentir o calor que o corpo de David transmitia para o seu. Ao subir o olhar pode reparar que a cara dele se encontrava a não mais de 15 cm da sua, olhava-a intensamente tentando entrar na sua mente e estava a consegui-lo. Mais do que ela pretendia. Sofia respirava já quase descontroladamente, e de um só impulso retirou o saco da mão de David e dirigiu-se para o sofá.

‘Caraca, ela tem qualquer coisa Meu Deus’

Ela deixou o seu corpo cair sobre o sofá, a sua mão voltou a encontrar o peito. A partir daquele momento o seu coração tinha deixado de lhe obedecer. Não era que ela não quizesse, desejava aquilo acima de tudo. Mas as diferenças gritavam mais alto na sua cabeça. E era a realidade pura e crua, eles pertenciam a mundos diferentes, diferentes de mais para encontrarem um ponto de equilíbrio entre os dois.

Olhou para ele, apesar do anoitecer David ainda não tinha ligado as luzes. Os clarões que se vislumbravam provinham da enorme janela á sua frente. A sua silhueta estava perfeitamente definida pela luz natural que entrava naquela divisão, ela olhou-o calmamente de cima a baixo. Expectante com o seu próximo movimento, imagens corriam na sua cabeça, imagens surreais nas quais o olhar de David era dirigido a si na primeira vez que sabia da sua existência, onde recordava o bater da sua mão no peito após ter marcado no derradeiro minuto, a sua dedicatória. Fechou os olhos e respirou fundo, tentando conter as lágrimas que começam agora a nascer, era algo impossível e tinha de encarar isso. Nem o gelo que tinha na mão conseguia congelá-la e permitir-lhe que ela deixa-se de sentir o que quer que fosse naquele momento.

-Maldito joelho!

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

14º Capítulo


A sua mão deslizou juntamente com o resto do seu corpo, discretamente olhou os posters que serviam para aprimorar um pouco aquela sala branca, apenas para ter direito a mais uns segundos sem que o seu coração quase lhe saltasse pela boca. Olhou na direcção de David, encontrava-se sentado no sofá, com uma mão apoiada na traseira do mesmo. Olhava-a intensamente, directamente, indiscretamente. A sua mão encontrava-se ainda na parede, apertou-a discretamente para as suas pernas não deixarem de lhe obedecer. Aquela troca de olhares estava definitivamente a consumi-la por dentro, sem prévio aviso.

David desviou o olhar, largou o comando e ergueu-se. Ela contraiu-se reavivando a sua memória .

Flashback

Sofia voltou a olhar para a mesa, viu David a meter uma bebida à boca, não podia dizer qual já que estava a uma distância considerável. Olhou para ela, baixou a cabeça . As suas mãos sairam de cima da mesa e pararam na cadeira. Desviou-a, voltou a olhar para ela e ergueu-se. Esta reacção por parte de David levou o grupo a entreolhar-se e Rubem puxou-lhe a mão o que desviou a sua atenção por segundos.

‘Vou lá cara’- e com isto encaminhou-se na sua direcção. Sofia começou a tremer. Ao ver aquela figura deslumbrante caminhar até si pode reparar como era simplesmente perfeito. O seu cabelo levantava suavemente a cada passo dado, a forma como o seu corpo respondia a cada movimento feito por sua causa, sim por sua causa.

Flashback off

Ela focou-o com o olhar, continuava a ser por sua causa. David dirigiu-se lentamente a ela, pode reparar que Sofia recuou até as suas costas embaterem delicadamente na parede, apoiando-se no joelho que o permitia.

Ele tinha uma vontade louca de se perder nela. Sofia iluminava uma sala e aquela estava a revelar-se pequena demais para ela fugir. A estrela era ele mas o brilho provinha dela.

- Vai precisar de gelo, vou buscar. Senta aí.

Passou a ombreira da divisão e permitiu a Sofia fraquejar, já precisa de um momento apenas para si, tentar recompor-se. A sua mão encontrou o peito, dificilmente deixou a parede e encaminhou-se para o sofá, passando os seus olhos pelos posters que serviam como arremeço de decoração. Ela estava presente no jogo em que lhe tinham tirado a foto que mais se destacava, lembrava-se perfeitamente de quantas vezes se esqueceu de respirar durante o encontro. Uma janela ocupava grande parte de uma parede na direcção oposta, a sua mão desviou o enorme cortinado que tentava manter toda a sua vida discreta o quanto possível. Ela sempre tinha adorado vistas, estava a anoitecer e o crepúsculo sobre a capital era magnífico. As luzes que emanavam dos carros passavam na sua cabeça em câmara lenta, como se de um filme se tratasse. Ainda se perguntou se naquele momento, ela fazia parte de um. Um leve sorriso apoderou-se da sua cara, virou-se com a cabeça baixa e logo embateu contra uma figura que ali se encontrava. Ela assustou-se. David estava completamente colado a si e aquele movimento tinha levado o seu braço à cintura de Sofia novamente.

-Tava sorrindo.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

13º Capítulo




Sofia voltou a parar, abriu a boca levemente e inspirou fundo. Que poderia ela responder a isto? Ela tinha medo sim desde que os seus olhares se tinham cruzado no restaurante, tinha medo desde o jogo, tinha medo do que ele a fazia sentir, de como a fazia sentir. O silêncio era o seu refúgio, se ela dissesse tudo o que pensava o mais certo era assustá-lo ao ponto de ele pedir uma providência cautelar para se manter longe de si. Ela abanou a cabeça, que filmes lhe vinham à mente naquela altura.

- isso é um ‘não’?

Ficou tão absorvida nos seus pensamentos que se esqueceu de responder a David. Mas que poderia ela responder?

- Um ‘não’? Ah sim, é um ‘não’. Definitivamente um ‘não’..

- O que disse?

- O meu joelho, dói-me um pouco.

David fechou a porta e avançou um pouco, deixou o seu sorriso apareçer e levou a sua mão à cabeça, mexeu levemente nos caracóis ajeitando-os.

- ‘Definitivamente não..’, eu percebi – sussurou-lhe ao ouvido, num tom meigo e provocador. Avançou e passou por ela que continuava apoiada à parede.

-Fica à vontade.

Desapareceu em seguida para sala. Nunca tinha sido boa em mentiras, mas esta tinha corrido tão mal que lhe lançou um enorme sorriso na cara. A mentira e o David, muito mais o David. Aquele homem era um sonho tornado realidade, assim esperava ela. Olhou em redor e reconheceu de imediato aquele apartamento, pequeno e simples. A decoração não era muito evidente mas não podia pedir muito, afinal de contas ele era homem. Design não era um domínio masculino. Sorriu sem saber bem porquê, aquela casa transbordava ‘DAVID LUIS’ por todos os cantos, cheirava a David Luis.

-Vai ficar aí a tarde toda? Tem sofás na sala viu?

Ela revirou os olhos, David estava a entrar com ela a pouco e pouco. Esperou mais uns 10 segundos e avançou calmamente, tentou caminhar em bicos dos pés para ele não a ouvir chegar, para não se preparar. Voltou a parar, ia jurar que estava num sonho, num meio de um conto de fadas que tanto ansiava, tanto desejava. Os seus dedos encontraram o fim da parede, ela tentou preparar-se mentalmente para o enfrentar mais uma vez, gostava de saber onde estava a Sofia que sempre tinha conheçido, a Sofia que nunca caíra tão fortemente nos encantos de alguém.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

12º Capítulo




Após o estalar da fechadura, levemente sentiu uma mão na sua cintura, convidando-a a passar a entrada e ela assim fez. Como uma criança que explora pela primeira vez o terreno, sentiu medo. Muito medo do desconhecido, de não saber o que a esperava, de não saber o que lhe ia na alma. A medo deu um pequeno passo e pode sentir o chão ‘gritar’ debaixo do seu pé, o seu joelho cedeu o que a fez soltar um ‘autch’ audível sentindo depois um braço envolver-lhe toda a sua cintura. Sofia cerrou os olhos e encostou a sua cabeça no ombro de David, tentando controlar-se e esqueçer a dor.

Ele não esperava aquela aproximação, mas não fez nada que a contrariasse. Inspirou fundo e sentiu o seu cheiro, doce e apetitoso. Nem era de se atirar de cabeça mas aquela mulher estava a deixá-lo alucinado. Um pouco envergonhado e perdido no meio dos seus pensamentos, posou o seu queixo no ombro de Sofia. A sua única reacção foi congelar completamente, a sua respiração foi sustida.

- Melhor?

-Já passou mais um pouco.

- Precisa pegar você ao colo?

‘Oh Meu Deus, por favor..’

-Não! Quer dizer, não é preciso. Eu consigo andar bem. Minimamente bem ..

Fechou os olhos e conseguiu sentir a respiração de David no seu ombro, aquilo estava a matar o seu coração lentamente. Ela queria deixar-se levar pelas suas pernas, avançar e separar os seus corpos, mas não tinha coragem. A respiração quente e suave dele, valia pelas dores que sentia no joelho, pelo gritar da sua alma. Ninguém tinha sido feito para aguentar uma carga emocional daquele tamanho. Se continuasse assim não saberia quanto mais tempo conseguiria manter-se visivelmente calma, avançou um pouco apenas o suficiente para o fazer levantar o queixo do seu ombro.

-Vamos ficar à porta?

Sofia não olhou para trás, avançou a passos largos. Pelo menos quanto o seu joelho lhe permitia, apoiou uma mão na parede já que de algum modo ela conhecia a sua casa. Vantagens proporcionadas pela Benfica Tv.

- Está com medo de mim?


sexta-feira, 24 de setembro de 2010

11º Capítulo



-Deixa eu te ajudar.

Ela olhou para a mão de David ainda depositada no seu braço discretamente, mas não o suficiente para ele deixar passar ao lado. Levemente, Luiz apertou um pouco mais o seu braço levando o seu polegar a fazer um pequeno círculo em torno do mesmo, o que a faz fechar os olhos e respirar fundo.

-Eu consigo sair sozinha, não estou assim tão incapacitada.

-Não foi isso que queria dizer, eu só queria te aju..

-..dar. Eu sei David.

Era a primeira vez que ela pronunciava o seu nome. A forma como a sua boca articulava as sílabas do seu nome num tom angelical deixou-o perplexo, talvez um pouco orgulhoso. Não conseguiu evitar um sorriso tímido seguido de uma pequena mordidela no lábio. Sofia agradeceu por ter os seus Ray-Ban na cara, os seus olhos abriram-se bastante com aquele gesto sedutor, ele sabia como fazer as coisas mas de uma forma discreta e romântica. Não poderia pedir mais. Baixou a cabeça, pacientemente afastou o braço até sentir apenas as pontas daqueles dedos roçarem suavemente nos últimos milímetros da sua pele e saiu do carro tentando evitar explodir de felicidade e desatar aos pulos que nem uma miúda do 5º ano.

Ele ainda levou um pouco a sair do carro, após desapertar o cinto tirou os Carrera da cara e olhou para sua mão. Fechou-a lentamente e olhou-a por 5 segundos. O destino afinal tem sempre razão, junta quem deve, com quem deve, na altura que deve.

Ajudou-a a subir a escadaria da entrada, agarrou-a com força tentando fazer um esforço para se manter concentrado no caminho e não na sua cara. Largou-a por momentos e tirou a chave do bolso. Sofia encontrava-se ali parada, contempletando o ‘B’ que se destacava naquele pedaço de madeira que separava a sua realidade e o sonho. Olhou-o, e um leve sorriso depositou-se na sua cara, ele transmitia-lhe uma calma e segurança incrivéis. Apesar de ter uma enorme vontade de gritar em plenos pulmões, nunca na sua vida o seu coração tinha batido tão depressa com a maior sensação de calma que alguma vez tinha experimentado.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

10º Capítulo


David parou devido a um semáforo vermelho. Tinha a mão esquerda no volante e a direita no manípulo das mudanças, ela foi obrigada a olhar. Reparou como ele a admirava por cima dos óculos, reparou no movimento que fez, virando-se um pouco mais para si. O carro era bastante robusto mas com a aproximação que ele estava a fazer, desejou que fosse bem maior de forma a conseguir aguentar o seu jogo.

- O sinal abriu.- Colou o seu olhar na dianteira do carro.

David deixou aparecer novamente o sorriso , puxou os óculos para cima e voltou à posição inicial com um ar vitorioso, orgulhoso dos seus efeitos nela.

-Eu sei.

Não era capaz de o encarar durante muito tempo, ia jurar que o seu coração saía disparado do peito se o fizesse. Estava a matá-la lentamente, olhar mais profundo que aquele não existia. Aquela aproximação ‘furtiva’ que fez, deixou-a literalmente a tremer de ansiedade e curisosidade.

Queria antecipar o próximo passo dele, mas sabia que neste momento o controlo da situação não era sua.

-Chegamos.

Ela acordou daquele transe, com um movimento involutário que a fez saltar discretamente no banco. Estava tão envolvida naqueles pensamentos, nas imagens que corriam dentro da sua cabeça de algo que se poderia adivinhar mais que uma simples passagem, bem longa com toda a esperança esperava.

- Claro, chegamos? Sim, chegamos.

Ela abriu a porta, o seu joelho estava a melhorar um pouco mas aquela posição estava a matá-la. Sentiu uma mão quente no seu braço, de um impulso só voltou-se. Um misto de medo e expectativa depositaram-se na sua mente quando os olhares se cruzaram, aquela mão macia e calorosa sobre a sua pele desencadeava uma reacção nervosa que a fazia perder o controlo. Tentou por um momento percebê-lo, talvez conseguir ler alguma coisa que a acalmasse um pouco sabendo o que esperar, mas ele era demasiado imprevisível. Esperava o melhor dele, só não sabia o quanto isso valia.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

9º Capítulo



David abriu o sorriso e estendeu-lhe a mão. Sofia voltou a engolir a seco, talvez pela 4ª ou 5ª vez desde que ali tinha entrado. Ergueu a sua mão lentamente, apercebeu-se tarde de mais que todo o seu corpo tremia com a aproximação do contacto.

-Está tremendo?- David sentiu a sua mão abanar dentro da sua e fixou-a com o olhar.

Sofia respirou fundo e levantou-se com o olhar cravado no chão, ele estava a percebê-la. Quando mais contacto existia entre os dois, mais um pouco de si era revelado a ele. David olhava-a com apreensão, esperava uma resposta.

-Não, não tenho razões para estar a tremer. Vamos?

David sorriu para dentro, percebeu que a causa do estado de Sofia era o seu toque. Tinha de confessar que estava a gostar demais dos efeitos e mais, tinha de admitir que a sua beleza natural estava a dar cabo dele.

-Vamos sim.

A viagem foi feita sem sobressaltos, em silêncio. David olhou-a sem medo, através dos óculos pode reparar que olhava pela sua janela com uma mão apoiada na porta. Tinha um ar misterioso, caída do seu céu literalmente. Apareceu do nada e esse pequeno ‘nada’ estava agora a tornar-se uma surpresa bastante agradável para ele.

‘Meu Deus, essa mulher é divinal’

Concentrou-se novamente na estrada e deixou o sorriso torto surgir. Não sabia nada sobre ela, e achava que talvez ela soubesse muito mais sobre ele. Alguma coisa teria de perguntar.

-Qual é mesmo seu nome?

Sofia olhou e o susto fez a sua mão descer automaticamente da porta para o botão do vidro sem prévio aviso. O vidro começou a descer lentamente, o que a levou a meter o dedo de novo no botão para o puxar para cima. Ele sorriu enquanto a via completamente atrapalhada perto de si e por si. Reparou que quando o vidro fechou por completo, Sofia levou a sua mão esquerda à testa num gesto de vergonha e embaraço, o que o fez gostar ainda mais da situação.

-Sofia, chamo-me Sofia.

-David Luiz, prazer.

Aquela palavra foi dita num tom propositado para a provocar, o que a fez afastar o seu olhar completamente atrapalhada. David já sabia como a deixar assim, e prometeu a si próprio continuar a fazê-lo, era mais forte que ele. Estendeu a sua mão para a cumprimentar, ela voltou a olhar e correspondeu. Mais uma vez o seu toque, sentiu a mão de David a apertar-se cada vez mais ao redor da dela. Afastou a sua mão da dele e virou a cabeça para a porta, tentou abafar o sorriso com todo o seu esforço. Mordeu o dedo e cerrou os olhos, ele estava literalmente a deixá-la ‘sem jeito’ e no entanto, estava a adorar isso.

-Carrera, bom gosto- o seu olhar estava metido no estádio de Alvalade, seria uma desculpa se por acaso ele exigisse a sua atenção.

-Você gosta?

-Prefiro Ray-Ban, mas sim gosto.

-Como pode dizer que gosta sem sequer olhar?

8º Capítulo



O médico saiu deixando-os sozinhos naquela enorme divisão. Ela levantou os olhos do seu joelho para ver o que a rodeava, nem podia acreditar que estava ali dentro, nada do que imaginára seria assim, um toque de mordenismo e classe. Teve a enorme tentação de olhar para David com a atenção que este merecia, mas tinha medo de se perder e não se voltar a encontrar. Resolveu então colocar os seus olhos na enorme janela que se encontrava do lado direito, uma área que abrangia um ambiente agradável. Tentou limpar a sua mente, encontrar o que lhe dizer, ela tinha ensaiado aquela cena vezes e vezes sem conta. Mas algo impedia as suas cordas vocais de fazerem o seu trabalho. Aliás, tudo lhe parecia pré-fabricado se as palavras fossem as mesmas e essa não era a sua maneira de ser.

David apoiou-se num braço do sofá e levantou-se, contornou-o por trás sem nunca deixar de a olhar. Esse gesto por parte dele, fez com quem ela desvia-se a sua atenção e tentasse ouvir o som dos seus passos, tentar imaginar a sua pose. Fechou os olhos e concentrou-se apenas na audição enquanto a podia admirar. David percebeu e parou por momentos, as suas mãos apoiaram-se nas costas do sofá discretamente, o suficiente para ela o sentir. Apoderou-se do seu corpo um arrepio que a fez chegar a sua cabeça ao ombro, um gesto involutário. Ele captou de imediato e sorriu, queria largar um sorriso de modo a que ela ouvisse mas preferiu prolongar aquele momento um pouco mais. Baixou-se um pouco, o que a fez sentir a sua respiração perto do ouvido. Inspirou fundo, o seu cheiro era irresistível, completamente arrebatador. Susteve a respiração e abriu os olhos. Rodou levemente a cabeça, baixando o olhar. Esse acto levou Luiz a chegar ainda mais próximo do seu ouvido, suprando levemente de modo a que ela o sentisse ainda mais. Sofia não aguentou, e olhou rapidamente em frente tendo acalmar-se e manter a sua postura. David adorou o efeito que provocou nela e por fim contornou o sofá encarando-a. Ela ergueu o olhar e engoliu a seco. Estava a perder o controlo do seu corpo e ele sabia que pouco a pouco estava a ganhar isso.

- Veio sozinha para cá?

‘Calma, pensa antes de responderes’

-O Comboio estava cheio.

‘o QUÊ!? Great’

Pelos vistos a sua atrapalhação foi o suficiente para fazer David sorrir.

-Tou vendo que veio sozinha mesmo. Vem, eu te ajudo e te dou uma carona até minha casa.

Ela parou, completamente chocada a olhar para David.

- A tu.. tua casa?

- Claro, não vai ficar sozinha com esse joelho. Mas de jeito nenhum.

-Não há problema, eu vou soz..

-Não vou aceitar um ‘não’ como resposta!

Ela até poderia continuar a insistir, mas ele não a deixava simplesmente ir embora. A expressão que fez era algo completamente amoroso de mais para ela recusar, voltou a engolir a seco. Se David lhe tocasse naquele momento, de certeza que iria notar o enorme esforço que estava a fazer para se manter minimamente calma. Boleia até à sua casa? Meu Deus, as coisas não estavam nada facéis para Sofia. Nunca pensou chegar tão longe, ou melhor, tão perto dele. E o seu corpo estava bloqueado, não sabia o que fazer, não sabia o que dizer. Isto nunca lhe tinha acontecido, sempre se tinha conhecido como alguém completamente desenrascada, com resposta na ponta da língua. E no entanto lutava para a sua boca pronunciar um simples ‘sim’ sem no segundo a seguir, cair para o lado com toda aquela emoção.

-Sim.

7º Capítulo



-Eu estou bem, foi só uma queda- ‘meu deus, esse olhar’

- De jeito nenhum, vai voltar comigo para dentro e vai ser vista por um médico. Consegue andar?

- Posso tentar.

David levantou-se e estendeu-lhe o braço, o que a fez paralizar durante 3 segundos. Engoliu em seco e levantou a sua mão lentamente até sentir o contacto entre as duas. Devia de sentir tudo naquele momento, mas não conseguia pensar, raciocinar. Apenas agia por instinto. David apertou-lhe suavemente a mão, e como se sentia cada vez mais atraído por uma desconhecida que o tinha arrebatado com um simples sorriso. Levantou-a sem dificuldade, segurando-a pela cintura com a outra mão. Este gesto fez com que ela o olha-se directamente, sem vergonhas, sem medos, sem dúvidas. Podiam simplesmente desaparecer os dois do meio de toda aquela confusão.

-Vem.

Levou-a até ao lugar de pendura, fechou a porta e correu até ao volante. Fez sinal ao segurança que voltou a abrir a cancela e meteu a marcha atrás a alta velocidade, estacionado o mais próximo da porta do centro. Levou-a até dentro, nunca saindo de perto de si com a maior preocupação. Só o seu toque fazia a dor dissipar-se, mas ela tinha de admitir que estava a adorar aquele seu lado completamente adorável. David encaminhou-a para um pequeno sofá com cuidado redobrado, pois qualquer movimento podia piorar o seu joelho.

-Vou chamar o médico, nem pense em levantar daí.

-Mesmo que quizesse não era capaz- disse num tom de brincadeira.

Ele sorriu e correu pelo corredor o mais rápido possivel, em pouco tempo trazia consigo o médico da equipa equipado com uma mala de primeiros socorros. Ajoelhou-se ao seu lado, mantendo debaixo de olho cada movimento que o médico fazia, cada simples fracção de segundo. Queria assegurar-se de que recebia o melhor tratamento possível. Discretamente olhou-a, deitou a cabeça um pouco para o lado direito de modo a que a sua face ficasse completamente centrada na ainda desconhecida para si. Tentou lembrar-se da primeira vez que a viu, no restaurante. Ia jurar que ela tinha saído de um conto de fadas, estava completamente arrebatado com a sua beleza. Reparou na forma como o seu cabelo caia suavemente através dos ombros à medida que ela se baixava um pouco para inspeccionar as acções do médico sobre o seu joelho. Reparou no seu olhar que deixava transparecer um pouco de intriga, confusão com tudo o que se passava à sua volta, ele reparou. Acreditava fielmente em Deus, com todo o seu ser. E acreditou que ela era um sinal, vindo de algo muito superior a simples mortais que eram.

- Agora aconselho-a a não esforçar muito o joelho, apesar de não ser nada de grave- tentou abster-se daqueles pensamentos, quando ouviu o médico. Ao menos era algo menor, pensava ser mais preocupante devido à queda.

- Valeu cara, te devo uma.

6º Capítulo



Desde então a sua vida não parava. A universidade estava a exigir bastante dela, não lhe deixava espaço para quase nada. Por sorte tinha a tarde livre e iria aproveitar para descansar um pouco. Junto à janela, as recordações daquele dia nao saiam da sua cabeça, era como um filme a rolar vezes e vezes sem conta dentro do seu pensamento. Sofia não se importava, aliás ela tinha medo de esqueçer e a sua vontade era de completar a história que apenas estava nas páginas iniciais. Tinha por costume correr atrás dos seus sonhos e foi o que resolveu fazer. Afinal de contas ela sabia mais sobre ele, e mais importante: sabia onde o encontrar. Fez-se ao caminho, paragem: Centro de Estágio, Seixal.

Era bastante provável que ainda o encontrasse àquela hora, pelas suas contas os treinos já tinham acabado e seria hora de abandonar o centro. O portão principal já estava rodeado por pelo menos uma centena de adeptos, quando os jogadores começaram a sair. O 1º foi Javi, rodeou-se rapidamente de fãs, que alguns seguranças tentavam deter. Reconheceu-a e acenou-lhe com a cabeça, Sofia retribuiu.

Olhou para dentro e conseguiu vislumbrar o carro de David, ainda lá estava. No preciso momento em que olhava, David dirigiu-se para o automóvel metendo os seus Carrera na cara e a mochila nas costas. A cancela abriu-se e o vidro instantaneamente baixou. Nunca negava um autógrafo a ninguém, o reconhecimento para ele era bom sinal, sinal de que dava sempre o seu melhor. Os seguranças tentavam manter os adeptos o mais longe possível do carro mas a tarefa não estava nada fácil, neste momento um deles foi um pouco mais brusco empurrando um grupo onde Sofia se encontrava. Esta desiquilibrou-se batendo violentamente com o joelho numa barreira de protecção. O embate foi tal, que a barreira ao movimentar-se no alcatrão deixou marcas bem denunciadoras. David olhou e vendo uma rapariga no chão, a sua única reacção foi sair do carro direito ao segurança.

- Oh cara não faz isso não, quem jeito tem? Deixa eles, vai!

Dirigiu-se a ela que se encontrava agarrada ao joelho, contorcendo-se de dores. Baixou-se, completamente preocupado com alguém que por sua causa, tinha sofrido uma queda brutal.

-Me deixa ver- Sofia olhou na sua direcção, David tirou os óculos para puder admirar o ser frágil que se encontrava à sua frente- Você?

5º Capítulo


Ela tremia ao pensar que o jogo ia começar, iria ser decisivo sem dúvida. Sabia que aqueles homens em campo iam dar tudo por tudo para sairem vitoriosos. Um em particular lutava com toda a força que possuía dentro de si por cada lance, como se fosse o último da sua carreira.

E durante mais um jogo isso tinha acontecido, estavam nos minutos finais e a bola chegou até David Luiz que rematou e fez golo. Todo o Estádio se levantou num ambiente de festa eufórico, o banco de suplentes quase invadiu o campo. David correu na sua direcção agarrado ao símbolo da águia que tinha no peito, a garra que mostrava era de louvar. Gritava com todo o ar que podia, festejava de uma maneira única. Chegou perto do banco e lançou-se para cima de Amorin, olhou para as bancadas com o punho cerrado o que levou a uma reacção ainda mais visivél por parte de todos os adeptos. Sofia levantou as mãos e gritou, com uma lágrima no canto do olho, ainda tentava perceber como uma pessoa em quem nunca tocou, tomava conta do seu corpo daquela maneira.

David voltou a olhar na sua direcção, desta vez encontrou-a. Ainda sobre o seu companheiro, esboçou o maior sorriso que pode e levou a mão fechada ao peito, batendo nele duas vezes. Sofia acenou positivamente e repetiu o mesmo gesto que David, mordendo levemente o lábio. Os festejos do golo tinham terminado, assim como o jogo. Graças ao seu Campeão, tinham conseguido a vitória. Podia perceber porque era o ‘menino de ouro’ de Jesus, o seu protegido.

Esperava ansiosamente por ele junto ao túnel, que já corria ao seu encontro. Mas antes que pudesse continuar foi apanhado por vários jornalistas e fotógrafos que queriam ter uma palavra com o homem do jogo. Ela preferiu não esperar, merecia toda a atenção por parte dos media pela sua brilhante prestação. Encaminhou-se para fora do Estádio e sentou-se num ponto alto observando o ‘Túnel da Morte’. Eram entoados cânticos, as pessoas traziam uma enorme alegria dentro delas. Fechou os olhos e respirou fundo demoradamente, era este o verdadeiro sentimento Vermelho.

Achou que era cedo de mais para sair dali, por isso resolveu dar algumas voltas ao Estádio. Vislumbrou o portão de saída com várias centenas de adeptos e foi investigar. Sorte a sua que naquele preciso momento, o autocarro encarnado se preparava para abandonar o Estádio direito ao centro de Estágio. Olhou com atenção e viu que David se encontrava no corredor a admirar toda aquela festa, e como as pessoas gritavam por ele. Acenava a toda a gente e Sofia levantou a mão.

De imediato se destacou naquela multidão por David, que rapidamente se chegou para cima de Rubem e colou a sua mão ao vidro. Sofia conseguiu chegar perto do autocarro e colar também a mão no vidro. Ia jurar que conseguia sentir o calor através daquele pedaço de qualquer coisa transparente.Ele sorriu de uma maneira única, enquanto Amorin quase esmagado pelo seu companheiro se ria com toda a situação. Ela mandou-lhe um beijo e o autocarro partiu, David levantou-se olhando pelo vidro traseiro, levou a mão à boca e retribuiu o gesto.

Ela, em completo choque, apertou com força o cachecol que trazia na mão. Estaria mesmo destinado?

4º Capítulo



Encontrava-se deitada no sofá, com o bilhete que o seu padrinho lhe tinha dado na mão, era hoje. Olhava para aquele pequeno pedaço de cartão e achava tudo aquilo alucinado de mais para ser verdade, e graças ao seu padrinho o seu sonho estava lentamente a adiquirir contornos bem reais.

Recostou-se um pouco mais no sofá e pensou naquela tarde, em cada segundo passado dentro do restaurante, Basicamente aqueles momentos tinham sido o desejo de milhares de raparigas e no entanto tinham-lhe acontecido a si. A si. Ela acreditava que tudo tinha uma razão para acontecer, uma razão de ser. E acreditou com todas as forças que Deus tinha decidido daquela maneira e não de outra, por alguma razão. Levantou-se e dirigiu-se ao roupeiro, procurou uns calções subidos e uma blusa larga que deixava vislumbrar um pouco do ombro.Vermelha claro, era a noite do Glorioso brilhar.

Pegou nas chaves e rumou ao Colombo.

Não se importava de fazer aquele caminho as vezes que fossem necessárias sozinha, era como um ritual para si e a Catedral, um sítio completamente sagrado. Olhou novamente para o bilhete e melhor lugar não poderia pedir: atrás do banco de suplentes do Benfica, quase junto ao túnel. Além da incrível panorâmica que teria do jogo, poderia ainda estar bastante próxima dos jogadores, de um em especial esperava ela. Teria de fazer um enorme jantar ao seu padrinho por aquilo, lembrou-se.

As equipas sairam para o treino, David vinha em 1º e deu uma pequena olhadela ao estádio, virou-se na sua direcção, olhou uma, duas, três vezes para ter a certeza. E mesmo assim não a encontrou. Abanou a cabeça e seguiu em frente. Aquele gesto tinha-a deixado um pouco confusa, não percebeu a sua reacção. Ele olhava a procurar algo, alguém. Chegou a pensar se seria ela quem David procurava ..

O grande Patrão saiu do túnel e dirigiu-se ao banco para deixar um casaco, já com a sua chiqlete na boca. Ouviu-se a maior saudação da noite e alguém atrás de Sofia encheu os pulmões de ar e chamou por Jesus suficientente alto para se fazer ouvir. Este olhou e Sofia aproveitou para lhe acenar. Jesus sorriu e piscou-lhe o olhou. De seguida dirigiu-se para junto da sua equipa.

Basicamente aqueles momentos tinham sido o desejo de milhares de raparigas e no entanto tinham-lhe acontecido a si. A si. Ela acreditava que tudo tinha uma razão para acontecer, uma razão de ser. E acreditou com todas as forças que Deus tinha decidido daquela maneira e não de outra, por alguma razão. Levantou-se e dirigiu-se ao roupeiro, procurou uns calções subidos e uma blusa larga que deixava vislumbrar um pouco do ombro.Vermelha claro, era a noite do Glorioso brilhar.

Pegou nas chaves e rumou ao Colombo.

Não se importava de fazer aquele caminho as vezes que fossem necessárias sozinha, era como um ritual para si e a Catedral, um sítio completamente sagrado. Olhou novamente para o bilhete e melhor lugar não poderia pedir: atrás do banco de suplentes do Benfica, quase junto ao túnel. Além da incrível panorâmica que teria do jogo, poderia ainda estar bastante próxima dos jogadores, de um em especial esperava ela. Teria de fazer um enorme jantar ao seu padrinho por aquilo, lembrou-se.

As equipas sairam para o treino, David vinha em 1º e deu uma pequena olhadela ao estádio, virou-se na sua direcção, olhou uma, duas, três vezes para ter a certeza. E mesmo assim não a encontrou. Abanou a cabeça e seguiu em frente. Aquele gesto tinha-a deixado um pouco confusa, não percebeu a sua reacção. Ele olhava a procurar algo, alguém. Chegou a pensar se seria ela quem David procurava ..

3º Capítulo


Chegou perto, sem nunca deixar de a olhar intensamente e como aquele olhar a matava, lhe dava vontade de fazer o impénsavel, o incontrolável.

-Mister, vem para junto da gente?

‘Oh meu Deus, que voz tão suave. Não faças isto comigo ..’

Jesus fez-lhe um sinal positivo com a cabeça e David entendeu. Não era preciso muito para o Mister se fazer perceber. Ela queria agarrá-lo naquele preciso momento, não o deixar voltar para longe de si. Olharam-se intensamente durante dois segundos, até David dizer:

-Peço desculpa pela interrupcção, até mais .

Aquele ‘até mais’ teve um único significado e Sofia percebeu-o assim que as palavras foram proferidas e isso causou-lhe um arrepio verdadeiramente sentido por todo o seu corpo.

-Sim, até mais.

David formou um ligeiro sorriso nos lábios o que a levou a focar-se na sua boca. Mordeu discretamente o seu lábio, respirou fundo e voltou a centrar-se nos seus olhos. Começou a afastar-se, deu 2 passos ainda focado em si e finalmente virou-se e voltou para a mesa. Os seus companheiros receberam-no com entusiasmo e várias palmadas na costas, como se se tratasse da comemoração de um golo que garantisse a vitória na recta final de um jogo decisivo.

-Gostei de ti miúda, boa rapariga sim senhor. Até uma próxima!

E com isto dirige-se à mesa da equipa, passando uma visturia nos seus jogadores, conferindo se tudo estava bem. Era mais forte do que ele.

João encaminhou-se para a saída passando à frente de Sofia, que nesse momento se apercebeu do olhar de David Luiz mais uma vez focado em si. Ou talvez nunca o tivesse desviado ..

Se ela pudesse parar o tempo, aquele olhar seria imortalizado para sempre. Olhou para o seu padrinho, já ia bastante adiantado. Voltou a olhar para a mesa e como ela queria dizer qualquer tanta coisa. Mas não haveria tempo e muito menos coragem. Abriu a boca levemente, suspirou.

Viu Rubem a meter a cabeça no meio de David e Javi tentando ver a cara do seu melhor amigo. Apenas levantou as sobrancelhas numa expressão de espanto o que levou Javi a soltar uma gargalhada. David recostou-se na cadeira e pegou no telemovel que se encontrava em cima da mesa, rodando-o. Olhava-a de uma maneira intensa, e ela sentia-o à distância. Pegou nos óculos e começou a caminhar, o que levou David a chegar-se para a frente num impulso só. Último olhar e o sorriso surgiu novamente. David deixou aparecer um sorriso torto, mais visível do lado esquerdo da cara, o que levou o coração de Sofia a disparar de uma forma tremenda, novamente. Estava a pensar como isso tinha acontecido vezes de mais em tão pouco tempo.

Olhou em frente e pegou na porta, parou. Voltou a olhar para trás e o seu Campeão continuava focado em si. Ele, Saviola, Rubem, Javi e Aimar. Com isso ela poderia sonhar, a sua boca soltou um enorme sorriso. Meteu os óculos e saiu do restaurante.

2º Capítulo



Naquele mesmo restaurante, o mais aclamando do Estádio encontrava-se todo o plantel principal do Benfica. Isso mesmo, Os Campeões e a equipa técnica. Alegremente distraídos, talvez dos copos a mais, talvez por terem dado a maior alegria à Águia. O certo é que as comemorações do título ainda não tinham acabado, sorte a sua pensou ela ..

Percorreu a mesa com os olhos e bem lá ao fundo viu uma figura que a deixou congelada. David Luiz, no meio de Saviola e Javi Garvia, acompanhando-se de Pablo Aimar à sua frente. O seu sorriso era ainda mais tentador ao vivo, aquele era o seu Campeão.

Respirou fundo e a sua mão largou calmamente a porta, encaminhou-se para a mesa do seu padrinho. O chão era feito de um material que denunciava bem os seus saltos e isso de alguma forma chamou a atenção de praticamente todos naquele espaço. Era atraente, com silhueta de sonho para uma jovem de 18 anos. Olhou para a mesa dos Campeões e a maior parte dos olhares eram dirigidos a si.

Ramires e Rubem Amorim pareciam comentar algo, até mesmo Luisão se virou para ver o que tanto os seus companheiros admiravam. Olhou um pouco mais para a frente, deparou-se com o olhar de Javi, que levemente bateu no ombro de David Luiz, na altura distraído com algo na tv.

‘Que foi cara?’- conseguiu ler nos seus lábios. Neste momento David olhou na sua direcção. Ela já centrada no seu olhar levou a mão direita à cara e tirou os óculos, os seus olhares estavam focados um no outro e isso era certo. Não sabia o que sentir mas toda aquela cena a levou a lançar um ligeiro sorriso na direcção dele enquanto caminhava . O olhar dele era diferente de todos os outros naquela sala, estava também ficado em si é verdade, mas era mais profundo do que qualquer outro. Ela ia jurar que a química tinha sido imediata. David não deixou de a seguir o que fez com que este passa-se o olhar sobre a cabeça de Aimar que estava à sua frente. Perante a cara completamente pasmada do seu colega, Aimar olhou na mesma direcção que ele. Neste momento ela desviou o olhar, e Aimar voltou novamente a virar-se para David Luiz, que continuava hipnotizado. Em seguida trocou pensamentos com Saviola e Javi que levemente bateram na cabeça de Luiz e o fizeram ‘acordar’.

-Sofia, minha querida! Como estás?- o seu padrinho apressou-se a levantar-se. – Estás tão crescida afilhada. Vem, quero apresentar-te uma pessoa. Jesus!

Neste momento a ilustre figura levantou-se do seu lugar, passou a mão pelo cabelo e sem deixar espaço para qualquer palavra cumprimentou-a.

-O teu padrinho não parava de falar de ti Sofia. Jorge Jesus, prazer.

- É uma honra conhecê-lo, juro.

- Eu não te disse que ela era linda?

-Sim realmente tens razão João, linda mesmo.

-Oh por favor, vou ficar envergonhada!- neste momento todos soltaram uma ligeira gargalhada e Sofia aproveitou de novo para olhar a mesa, desta vez em sua frente. Encontrou novamente o olhar que tento queria, mas desta vez o grupo estava completamente focado em toda aquela cena que para si, parecia ainda irreal. Saviola tinha-se virado um pouco mais para a sua direcção, Javi estava quase colado a David Luiz e a cadeira de Aimar encontrava-se agora numa posição totalmente diferente da inicial. Toda esta atenção levou a que desviasse o olhar por segundos, mas era irresistível. David Luiz apoiava agora os cotovelos na mesa e levava uma mão à boca, enquanto Javi lhe segredava algo. David sorriu ligeiramente e Sofia correspondeu com esse mesmo sorriso ligeiro, mas tão profundo. A sua reacção levou Javi a recostar-se na cadeira com um ar vitorioso, enquanto Saviola esmurrava o braço de David, rindo-se da situação.

Ela tentava digerir o facto de tudo aquilo estar a acontecer à sua frente, de fazer parte do ambiente onde se encontrava naquele preciso momento. Conseguiu ver a aproximação de Rubem Amorin ao grupo, que agarrou os ombros de David e o abanou delicadamente, sentando-se um pouco mais atrás entre David e Javi. Este, pelo que percebeu, não perdeu tempo em contar o que se passava e em breve mais um olhar estava posto em si.

-O João também me contou que és benfiquista.

-Hum?- estava completamente atordoada- Ah claro! Desde que me lembro, nem poderia ser de outra forma.

Jesus levou a mão ao bolso e tirou de lá uma caixa de chiqletes,meteu uma na boca.

- Sendo assim, quero ver-te neste estádio muitas vezes.

- Eu já tratei disso Jorge- João tirou da carteira um bilhete encarnado e entregou-o a Sofia- Sabes perfeitamente que sou portista mas isso não me impede de te dar um pequeno presente destes de vez em quando.

Sofia abriu a boca e tentou dizer alguma mas apenas se formou um enorme sorriso na sua cara.

- Eu nem sei o que dizer- deu-lhe um beijo na cara- Obrigado.

-Já disseste minha querida. Bem Jorge é semprei um prazer, mas o trabalho chama-me.

- Claro João, vai dando notícias. Foi um prazer enorme Sofia.

-O prazer foi todo meu, conhecê-lo foi uma honra.

Sofia voltou a olhar para a mesa, viu David a meter uma bebida à boca, não podia dizer qual já que estava a uma distância considerável. Olhou para ela, baixou a cabeça . As suas mãos sairam de cima da mesa e pararam na cadeira. Desviou-a, voltou a olhar para ela e ergueu-se. Esta reacção por parte de David levou o grupo a entreolhar-se e Rubem puxou-lhe a mão o que desviou a sua atenção por segundos.

‘Vou lá cara’- e com isto encaminhou-se na sua direcção. Sofia começou a tremer. Ao ver aquela figura deslumbrante caminhar até si pode reparar como era simplesmente perfeito. O seu cabelo levantava suavemente a cada passo dado, a forma como o seu corpo respondia a cada movimento feito por sua causa, sim por sua causa. Ou talvez não, isso seria bom de mais para ser verdade e ela já se tinha iludido com tudo ..